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GRADIVA – A PSICANÁLISE QUE AVANÇA

Freud e a Gradiva de Jensen

     Mobilizado por sua paixão pela arqueologia e por sugestão de Jung, Freud decide ler a obra do escritor alemão Wilhelm Jensen (1837 - 1911), publicada em 1903. Tal leitura de um texto leigo, possibilitou a Freud  especificar suas concepções sobre: repressão, gênese do delírio e perturbações correlatas, formação e solução de sonhos, o papel da vida erótica, o método  psicanalítico  como possibilidade de cura e o funcionamento das mentes criativas nas  artes! O romance de Jensen, surpreendentemente, tornou-se um texto clássico sobre técnica psicanalítica, pois as intervenções de Zoé- Gradiva em seus diálogos com Hanold, segundo Freud, são um tratado sobre a interpretação psicanalítica. O entendimento e as interpretações de Zoé, com toda  a pluralidade de significados, com toda a ambiguidade e precisão, conseguem ao final desfazer o delírio de seu amado...

 

A Gradiva de Jensen

     Wilhelm Jensen (1837 -1911) é  um escritor alemão que escreve o livro Gradiva: uma fantasia pompeiana em 1903, sem nunca ter tomado contato com a psicanálise.

     O personagem é um jovem arqueólogo, Norbert Hanold, que descobrira, num museu de antiguidades em Roma, um relevo que o atraíra muito, obtendo uma cópia  de gesso que colocou em seu gabinete de trabalho,  para admirá-la. A escultura representava uma jovem mulher, cujas vestes esvoaçantes revelavam os pés calçados com sandálias, a caminhar. Um dos pés pisava no solo, enquanto o outro pé está flexionado para  dar o próximo passo, apoiado  na ponta dos dedos, com a planta e o calcanhar perpendiculares ao chão. Esse modo de andar incomum e gracioso motivou o escultor e após séculos seduziu o arqueólogo.

      Hanold chamou-a de Gradiva, “a jovem que avança”. Perturbado e excitado com a imagem desta linda mulher, Hanold inventa uma história para ela, sonha com ela e passa a ter delírios e comporta-se de forma doentia. No final do romance, Hanold pede a jovem Zoé Bertgang, cujo sobrenome tem o mesmo significado de Gradiva e quer dizer “alguém que brilha ao avançar”, que ande a sua frente. Zoé-Gradiva agora rediviva, ergue a saia e caminha com seu jeito especial, enquanto ele a observa sonhador e apaixonado.

      “Gradiva: uma fantasia pompeiana”(Ruth Silviano Bandão)

     “Fantasia pompeiana é algo que remete ao imaginário social de uma época capaz de construir a escultura da jovem andeja, produto e produção cultural; é, também, fantasia de Hanold, arqueólogo alemão que desencava o passado e para quem Pompéia se oferece como objeto de um mundo morto; ou também, a fantasia amorosa de Freud, fascinado por uma certa dama fulgurante, que avança, chamada Psicanálise.

     Para ele, Zoé-Gradiva é a própria Psicanálise, como possibilidade de cura por meio do desrecalcamento e da condição de viver a realidade. Zoé-Gradiva é filha, é mãe, por sua solicitude, é também vida e remete a um progredir com brilho, desejo de seu pai metafórico, o Pai da Psicanálise”.

“Uma certa dama fulgurante, que avança, chamada Psicanálise...”

Por que a Gradiva?

      Para nós a Gradiva é “Uma certa dama fulgurante, que avança, chamada Psicanálise...”

     Como descreve Freud, a leitura Gradiva possibilitou exemplificar conceitos psicanalíticos delineados a partir da análise do romance:

“Todo tratamento psicanalítico é uma tentativa de libertar amor reprimido que na conciliação  de um sintoma encontrará escoamento insuficiente.”

“Na Psicoterapia Analítica a paixão que ressurge, seja amor ou ódio, invariavelmente escolhe como objeto a figura do médico.”

“Cabe ao médico indicar aos pacientes curados como empregar na vida real a capacidade de amar que recuperaram”

     Como dizia Freud todo sonho é uma “…incrível trama tecida por tua imaginação”

Sobre a psicoterapia psicanalítica

     A experiência psicanalítica revela que nossas vivencias são preservadas no psiquismo e o esquecimento não implica de modo algum no seu total desaparecimento, sendo, antes disso, efeito da ação do recalcamento que a análise visa superar – é o que Sigmund Freud comparava no trabalho da arqueologia e da psicanálise.  O analista trabalha com as repetições de reações que ocorreram na infância e, também, o que é indicado pela transferência, em conexão com essas repetições, enquanto o arqueólogo só encontra essas condições excepcionais em raras situações, como nas escavações das cidades de Pompéia ou Herculano.

Como dizia Freud todo sonho é uma “…incrível trama tecida por tua imaginação”

Gradiva e o GGAPP

Para nós a Gradiva é “Uma certa dama fulgurante, que avança, chamada Psicanálise...”

Esta frase certamente traduz a trajetória do GGAPP-GRADIVA GRUPO ATLÂNTICO DE PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA - uma instituição de ensino e transmissão da psicoterapia psicanalítica no litoral.

Em Capão da Canoa, as margens do Atlântico Sul, chegou a nossa Gradiva! E convidamos vocês a progredir conosco nesta caminhada.

 

Referências:

BRANCO, Lúcia C., BRANDÃO, Ruth S. Literaterras. As bordas do corpo literário. São Paulo: UFMG/Annabluma, 1995, p.29.

FREUD

JENSEN                           

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